quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Caso 39



Escrevo estas linhas com as mãos trémulas de inquietação: porque há coisas que todos preferíamos ignorar, realidades que era preferível que nunca tivéssemos conhecido. Mas, muitas vezes na vida, as verdades surgem no nosso caminho e não podemos desviar o olhar!
Asdrubalino e Balido são irmãos gémeos, mas não podiam ser mais diferentes: podemos mesmo afirmar, que um é verdadeiramente filho do pai e outro filho da mãe, tal a similitude com os seus progenitores.
E que triste fado: a mãe dos gémeos é Hermengarda, que, no dia em que celebrou os dezoito anos, bebeu demasiado e seduziu sexualmente o seu próprio pai, Anselmo, tendo, como resultado dessa fatídica noite, ficado grávida. Um segredo mal guardado, que toda a aldeia sempre desconfiou, embora, a paternidade esteja omissa no registo! Como, são profundamente confusos os laços familiares entre estas quatro personagens.
Quando Balido fez dezasseis anos, comprou uma mota toda bonita, que lhe permitia ter um sucesso terrível com as pirralhas; era mesmo conhecido por “aspirina”, pelo seu talento para curar dores de cabeça, normalmente, numa barragem em pleno Alentejo esquecido.
Asdrubalino, porque era tímido e recatado, optou por casar, tinha ainda 17 anos, com a sua tia preferida, para alegria de toda a sua família que, como deixámos escrito supra, era muitíssimo unida; depois do casamento, foram viver para Salvaterra de Magos. E durante três anos tentaram engravidar, mas nunca conseguiram, para profunda infelicidade e desespero! Porque querem muito ter um filho e não sabem como!
Balido que tinha um irresistível charme do restolho, fazia sucesso que as pirralhas das aldeias; num baile, entusiasmou-se, conheceu uma aluna de serviço social e só descansou quando a engravidou! Mas, mesmo depois de casado, não conseguia deixar de colecionar namoradas: quando elas queriam algo mais sério, recordava-lhes que era casado e, com um ar cândido, dizia-lhes: “Nós, sempre soubemos que tu tens o teu men, e eu tenho a minha lady, estava claro que esse nosso caso, era passageiro. E agora vens te armar em vítima, dizendo que eu te magoei! Mas enxuga as tuas lágrimas, pois eu nunca te menti, que, eu tenho o meu amor, e não a vou deixar. Sempre soubeste que...,o plano entre nós, era só uma curtição, e era proibido amar, ou falar de paixão; o plano entre nós, era uma noite e nada mais, agora não me venhas dizer-me que eu te usei!”. Não obstante e apesar de tanto amor, por uma obscura razão, Marinela, esposa de Balido, era infeliz no casamento. E nem mesmo quando ele lhe oferecia diamantes caros, que se esquecia de pagar, ela ficava mais satisfeita.

Anselmo, pai dos três irmãos, enviuvou no dia em que a sua mulher morreu: e nunca mais amou outra vez: passava as noites embriagado, em bares de alterne (só por curiosidade) e gastava grande parte do seu património, nas conversas que tinha com aquelas mulheres. Numa dessas noites, teve relações sexuais com uma jovem de 15 anos. E apaixonou-se! Porque a juventude inebria! Semanas depois, quando ela atingiu dezasseis anos, começaram a viver na mesma casa, como marido e mulher!  E todas as noites ela deixava-o louco de prazer, agredindo-o com um chicote! Até ao dia: em que Balido foi visitar o pai e se enamorou pela jovem, que agora já tinha 19 anos. Porque a paixão era reciproca, quiseram começar a viver juntos, naquela casa, que era a casa do pai! Que temporariamente foi viver com a filha Hermengarda, que tinha regressado de uma despedida de solteira em Espanha! E mais não conto: porque o pudor não me permite!

Quid Juris