Quando Amaro de olhares gulosos, como para perspectivas de um paraíso, lhe viu a brancura da meia, que ele entreviu,
perturbou-o como um começo de nudez e sentido
entre os braços o corpo dela apertou-a brutalmente e beijou com furor no
pescoço. Se dúvidas subsistissem, a verdade
surgiu como um cão, repelido como um pretendente, tornado axiomático que o
pároco estava apaixonado por Amelinha.
E esta paixão consumia-o e o
namoro atormentava-o: blasfemava a igreja por o obrigar à castidade, invejava
os outros homens e as suas vestes, a possibilidade, a ele vedada, de viverem
livremente os seus amores; querendo conservar Amelinha apenas sua, ficava
violento quando ela falava de outros homens ou desejava ir a festas, ameaçava-a
com a ira de Deus, chegando a esbofeteá-la; também por isso, ela abandonara-se-lhe absolutamente, toda
inteira, corpo, alma, vontade e sentimento: não havia na sua pele um cabelinho,
não corria no seu cérebro uma ideia, a mais pequenina, que não pertencesse ao
senhor pároco.
A mãe de Amelinha, S. Joaneira,
desde há muitos anos que vivia com o Padre-Mestre, segredo mal escondido,
denunciado no “comunicado” de João Eduardo, por ressabiamento de sentir perder a
sua amada para o padre Amaro. O que nem João Eduardo sabia [e nem sequer Eça
desconfiava] era que o Padre-Mestre, na ociosidade das horas vãs, entrava no
quarto da idiota [tia de Amelinha, com 15 anos, desde há anos acamada,
praticamente em coma] para com ela saciar os seus mais abjetos vícios, usando-a
sexualmente de todas as formas possíveis. Insatisfeito, seduziu através da
internet as duas rosas do canteiro do
padre Natário, as suas sobrinhas, ambas de 13 anos, com quem mantinha
conversas eróticas. Aliás, no décimo quarta aniversário de uma delas, copularam
na casa do sineiro.
Uma das visitas contantes da casa
da Rua da Misericórdia, era Libaninho, visivelmente homossexual, mas que, para
dissimular os seus pecados, havia casado com a rica sexagenária D. Maria da
Assunção. Casamento feliz, por pura conveniência, desmanchado quando a velha
senhora apanhou o marido a fazer o amor com um sargento do exército. O problema
é que Libaninho queria metade do património da senhora devota.
Aliás, desde petiz que Libaninho
era obcecado por dinheiro e pouco dado a honestidades: com dinheiro que lhe
fora doado por uma tia muito velha, comprou, no seu décimo quinto aniversário,
uma mota e uma camisa do tony carreira. Caiu da mota, foi para o hospital, mas,
por devoção, recusou-se a admitir que lhe fosse dado sangue.
Quid Yuris
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