quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Caso 41

Quando Amaro de olhares gulosos, como para perspectivas de um paraíso, lhe viu a brancura da meia, que ele entreviu, perturbou-o como um começo de nudez e sentido entre os braços o corpo dela apertou-a brutalmente e beijou com furor no pescoço. Se dúvidas subsistissem, a verdade surgiu como um cão, repelido como um pretendente, tornado axiomático que o pároco estava apaixonado por Amelinha.
E esta paixão consumia-o e o namoro atormentava-o: blasfemava a igreja por o obrigar à castidade, invejava os outros homens e as suas vestes, a possibilidade, a ele vedada, de viverem livremente os seus amores; querendo conservar Amelinha apenas sua, ficava violento quando ela falava de outros homens ou desejava ir a festas, ameaçava-a com a ira de Deus, chegando a esbofeteá-la; também por isso, ela abandonara-se-lhe absolutamente, toda inteira, corpo, alma, vontade e sentimento: não havia na sua pele um cabelinho, não corria no seu cérebro uma ideia, a mais pequenina, que não pertencesse ao senhor pároco.
A mãe de Amelinha, S. Joaneira, desde há muitos anos que vivia com o Padre-Mestre, segredo mal escondido, denunciado no “comunicado” de João Eduardo, por ressabiamento de sentir perder a sua amada para o padre Amaro. O que nem João Eduardo sabia [e nem sequer Eça desconfiava] era que o Padre-Mestre, na ociosidade das horas vãs, entrava no quarto da idiota [tia de Amelinha, com 15 anos, desde há anos acamada, praticamente em coma] para com ela saciar os seus mais abjetos vícios, usando-a sexualmente de todas as formas possíveis. Insatisfeito, seduziu através da internet as duas rosas do canteiro do padre Natário, as suas sobrinhas, ambas de 13 anos, com quem mantinha conversas eróticas. Aliás, no décimo quarta aniversário de uma delas, copularam na casa do sineiro.
Uma das visitas contantes da casa da Rua da Misericórdia, era Libaninho, visivelmente homossexual, mas que, para dissimular os seus pecados, havia casado com a rica sexagenária D. Maria da Assunção. Casamento feliz, por pura conveniência, desmanchado quando a velha senhora apanhou o marido a fazer o amor com um sargento do exército. O problema é que Libaninho queria metade do património da senhora devota.
Aliás, desde petiz que Libaninho era obcecado por dinheiro e pouco dado a honestidades: com dinheiro que lhe fora doado por uma tia muito velha, comprou, no seu décimo quinto aniversário, uma mota e uma camisa do tony carreira. Caiu da mota, foi para o hospital, mas, por devoção, recusou-se a admitir que lhe fosse dado sangue.
Quid Yuris

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